13 de janeiro de 2014

Especial Clássico: Benfica 2-0 FC Porto

Era tarde de emoções fortes e ninguém o negava. Os benfiquistas responderam à chamada que Eusébio involuntariamente deixou e quiseram estar presentes naquele que seria, teoricamente, e até ao momento, o jogo mais difícil do campeonato…também ele a encerrar a primeira parte do mesmo. Igualdade pontual no pódio com os três grandes a mostrarem como se dá de comer (bom futebol) ao povo português, se bem que pelas 16h00 de Domingo já o Sporting tinha empatado na Amoreira e tremia com a possibilidade de ver um dos seus dois adversários directos distanciar-se. O que veio mesmo a acontecer.

O Benfica abriu as portas a uns 63 mil espectadores – naquela que foi, de longe, a melhor assistência do ano – e preparou coreografia, homenagem, minuto de silêncio, vídeo…tudo para lembrar e relembrar o Rei que partiu há ainda menos de uma semana. Estar no estádio – e posso afirmá-lo sem precedentes porque fui um dos privilegiados – foi como ir ao céu e voltar. Poucas coisas sabem assim, daquela maneira única que todas e nenhumas palavras servem para explicar. Arrepiante.

Apito inicial e a equipa da casa a querer ir para cima do adversário. Mais bola, mais atrevimento e o lado esquerdo a funcionar on wheels, proporcionando alguns sustos a Paulo Fonseca e seus pupilos. Mas cedo o FC Porto se recusou a abandonar o jogo e guardou para si a bola. Ainda só íamos com dez minutos de jogo e já se percebia que as bancadas queriam ver mais Benfica, ou o mais normal seria voltar aos tempos em que nem pintados de ouro os jogadores de encarnado conseguiam vencer o clube nortenho. Nem de propósito e sem muitos o conseguirem prever, Rodriguito, numa perfeita e oportuna homenagem ao Pantera Negra, faz o primeiro da noite: um remate vistoso e indefensável pela esquerda, ao minuto 13…o mesmo número que Eusébio envergou ao serviço da Selecção Nacional no Mundial de 66. Respira fundo, Jesus. Ficou mais fácil.
Em tarde de homenagem a Eusébio, Rodrigo abriu o caminho para o triunfo in Lusa
Sabemos é que, quando fica mais fácil para o Benfica, abre-se lugar ao disparate. Ora, sem tirar nem pôr: os azuis e brancos foram ganhando espaço e mais espaço e quando se dava por eles estavam em cima da área encarnada a tentar bombear bolas para a baliza de um Oblak que entrou em campo como o terceiro mais novo guarda-redes de sempre a enfrentar o FC Porto no eterno clássico. Com uma exibição segura e sem grandes preocupações, o jovem alcançou perante o rival nortenho o sexto jogo consecutivo sem sofrer golos tornando-se no melhor guarda-redes estreante da história do clube. Com ou sem coincidências, a defesa do Benfica mostrou-se também ela segura – ainda que com linhas muito baixas – e assim fomos para intervalo. O FC Porto não era preciso, mas estava mais forte.

Voltou-se para aquela que seria uma segunda parte sem muita história. O Benfica entrou pesado e sem vontade de ver o seu adversário jogar e as bancadas deliciaram-se com o festim de bola que iam vendo. Passes acertados, iniciativas de se lhe tirar o chapéu, espaço para chegar ao meio e uma defesa irrepreensível. Ia-se notando, por esta hora, a importância de Matic e Enzo neste esquema habitual, e depois a importância de Maxi e Siqueira na quebra das laterais do FC Porto. Como se não bastasse, os centrais ainda subiam e, numa dessas ocasiões, Garay – de canto – meteu a cabeça à bola e bateu um Helton pouco inspirado e relativamente nervoso. Estava feito o segundo da noite e nem a entrada de Quaresma serviria para pôr água na tépida fervura que era o jogo de Paulo Fonseca. Foi um jogo bonito e simples, muito disputado, mas que teve um justo vencedor: o que realmente venceu.

A assinalar ainda que Artur Soares Dias tem falhas relativamente estranhas e critérios que deixam um pouco a desejar. Entra em campo com o objectivo de não amarelar desnecessariamente os jogadores de ambos os conjuntos, mas consegue – já na segunda parte – atribuir cinco cartolinas em menos de dez minutos. A isto junte-se uma mão de Mangala na área que o juiz da partida não conseguiu ver – minuto 52 – e um “chega-para-lá” perfeitamente escusado de Garay sobre Quaresma que poderia ter valido grande penalidade para os azuis e brancos – minuto 80. Vale a pena deixar bem explícito que não foi um jogo propriamente fácil para o árbitro que, para além de ter 63 mil pessoas à sua volta, teve ainda de lidar com a agressividade excessiva dos jogadores do FC Porto na primeira parte…tendo essa mesma agressividade sido retribuída em alguns poucos lances por parte dos jogadores do Benfica.

Campeões de Inverno. “Só” falta o resto.
Rodrigo e Garay foram os autores dos golos na vitória encarnada in Lusa
Classificação dos Jogadores:

Oblak (9) – Tudo o que havia para fazer, ficou feito. Com segurança e determinação. E não precisa de mais do que 21 anos de vida e outros tantos de treino e experiência para provar que tem pela frente uma brilhante carreira.

Garay (7) – Não se pode exigir perfeição a nenhum ser humano, mas quando se é realmente perfeito exige-se que tal dom se mantenha, propague e exalte dia após dia ou, neste caso, jogo após jogo. Ora, se Garay é perfeito…para quê uma ou outra entrada fora de tempo e plena de agressividade? Quaresma tem razão de queixa.

Luisão (7) – Em dia de homenagem ao Rei, o rei da defesa encarnada puxou da coroa, ocupou o habitual trono e, ainda que o turbo de Jackson tenha em alguns momentos metido medo, o brasileiro não se deixou ofuscar. Fácil.

Maxi (8) – Portentoso. E pouco mais há a dizer. Tirando o facto de ter feito o jogo da época e de ter estado bem ao ponto de lembrar os anos em que (nos) deslumbrou. “El Cantiflas” ainda terá jogo em si?

Siqueira (7) – Não sou apreciador do estilo, revejo nele inúmeras falhas que ocuparam o lado esquerdo da nossa defesa desde a saída de Coentrão, mas não posso deixar de tirar o chapéu a esta bem conseguida exibição. Forte fisicamente e com a capacidade para anular completamente Varela e não se deixar assustar pelas arrancadas do recém-chegado Quaresma.

Matic (8) – Dá vontade de lhe comprar um estádio e uma bola e pagar bilhete só para ver o raio do homem jogar e deslumbrar sozinho. Só falhou no minuto 10 quando Helton ofereceu uma prendinha de Natal atrasada e o passe não lhe saiu bem. De resto? Não só mandou no meio-campo encarnado, como no azul. Vai deixar saudades...

Enzo Pérez (6) – Consistente e presente. É uma luz que na Luz (e fora dela) não se apaga. Só que não tão brilhante como em outras alturas.

Gaitán (7) – Desengata sempre e em qualquer situação. Faz lembrar aquele amigo que todos nós temos que é sempre capaz de meter o carro a pegar. Dá uma confiança tenebrosa ao ataque do Benfica e isso viu-se num lado esquerdo sempre muito criativo e maroto.

Lima (5) – Continua à procura do seu espaço na equipa. Ninguém esquece as suas capacidades nem o que deu ao Benfica numa só época. Mas pede-se mais. E ele é capaz.

Rodrigo (8) – Desbloqueou o jogo e quebrou o medo. Funcionou não como timoneiro – papel mais natural -, mas sim como farol. Aguentou o ataque com a classe de um jogador que já faz isto há muitos, muitos anos. Não é o caso. Mas parece.

Jardel (-) – Registei uma intervenção poderosa, mas nada mais.

Rúben Amorim (-) - Sem tempo para mostrar serviço.

Melhor em Campo: Markovic (9) – Brilhou de forma curiosa, tal como as estrelas mais bonitas o fazem no céu: nem sempre de forma consistente e escondendo-se por uma ou outra vez. Mas ainda assim capazes de nos alegrar e embelezar a noite. Ou, neste preciso caso, o final de tarde. É um caso a ter em conta. Arrancada pela esquerda, arrancada pelo meio. Passe aqui, passe acolá. Luta pelo chão, luta pelo ar. Foi pau para toda a obra e, ainda que tenha caído a meio da segunda parte, merece o prémio de jogador do clássico. É para manter.

Artigo presente no sítio de desporto online

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