29 de agosto de 2012

Concurso "Ídolo do Volante"

Deixo aqui o primeiro vídeo que criei para o concurso que me valeu o lugar de apresentador do programa "Volante", na SIC Notícias.

Olá, o meu nome é Tiago Martins e este é o "meu" Seat Ibiza de 1999.
Com ele tornei-me no primeiro "Ídolo do Volante". Tornei-me no novo apresentador do programa "Volante", na SIC Notícias. Tornei-me num maníaco dos automóveis.



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Imagem: Mário Rui André
Áudio: Rita Bernardo
Realização, Edição e Montagem: Tiago Martins

25 de julho de 2012

Na Playboy Há "Chicha"

A Playboy foi para a rua mostrar que não é um catálogo de lingerie e as reacções foram...surpreendentes!



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Apresentação:
- Bruno Costa
- Tiago Martins

Câmara:
- Tiago Simões

Edição:
- Maria Pena

Assistentes de Produção:
- Perly Ramos
- Rúben Baía

24 de julho de 2012

Interrogatório Mafioso

Uma aventura sonora para ouvir com uns headphones e com os olhos bem fechados

Um intermediário, que usualmente deposita no banco malas cheias de dinheiro da máfia, deu sumiço a 500.000€. Diz não saber o que aconteceu e garante que foi o banco que arranjou maneira de ficar com o dinheiro culpabilizando-o a ele. Ora, o intermediário é apanhado desprevenido, certa noite, ao entrar em casa. Com uma seca pancada na nuca perde os sentidos e é feito refém. É aí que a cena começa, quando a vítima acorda e ganha consciência de onde está e do que lhe está a acontecer: foi raptado e está a ser violentamente interrogado pelos mafiosos no quarto de um motel rasca.

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Ideia e Produção: Hugo Rebelo, Joana Lourenço, Mário Oliveira, Rita Bernardo e Tiago Martins
Ajuda à Produção: Pedro Sá

1 de julho de 2012

Uma Casa no Chade

Vêm do mesmo sítio. Fogem do mesmo destino. E as lágrimas que choram são as do seu povo. São 300.000 crianças e mulheres sudanesas que sobreviveram ao conflito no Darfur. A pouco mais de 200 quilómetros de distância jazem as ruínas das suas casas. Os corpos dos seus familiares. E as memórias de uma vida que tiveram de abandonar.


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Edição e Locução: Tiago Martins
Imagem: UNICEF

30 de junho de 2012

Morte cardíaca súbita

Quando a paixão impera, mas o coração já não bate

Primeiro, Fabrice Muamba. Depois, Piermario Morosini. Miklós Fehér, então, nunca nos saiu da memória. Mas não é só no futebol que se morre por amor à camisola. Ciclismo, basquetebol e voleibol são outras modalidades de risco. Mas até que ponto pode esse risco ainda existir na alta competição?

Nuno Lousada, Cardiologista

As bancadas à pinha. Um apoio ensurdecedor. Os ponteiros do relógio que não descansam. O suor que não deixa de escorrer. A bola de cá para lá e de lá para cá. Quando, de repente, tudo cessa. Um baque seco invade o ambiente. A bola perde-se. As lágrimas substituem o suor. E, sem que ninguém o fizesse prever, o coração pára. Foi assim em Pescara, com Morosini. Foi assim em Londres, com Muamba. Em Guimarães, com Fehér. O mesmo com Antonio Puerta, em Sevilha. O mesmo com Bruno Neves, no ciclismo. E com Paulo Pinto, no basquetebol.
No nosso país, a conjuntura actual é, ainda assim, «muito positiva». Quem o diz é Nuno Lousada, cardiologista especializado em Medicina Desportiva. A situação tem melhorado a olhos vistos, o que se comprova pela «quase inexistência de casos de morte súbita nos últimos anos». Mas o que é que provoca realmente este tipo de incidentes? «No que diz respeito aos atletas mais jovens é normalmente a miocardiopatia hipertrófica». Uma patologia na qual uma porção do miocárdio engrossa, o que consequentemente leva à fibrilação ventricular. E é a fibrilação ventricular que origina alterações no ritmo cardíaco, impedindo o sangue de chegar ao cérebro em tempo útil, causando morte cerebral.
«Nem sempre há explicação para tudo, porque nem tudo é a preto e branco na cardiologia». Actualmente responsável pelo Hospital de dia de Insuficiência Cardíaca, no Hospital Pulido Valente, o cardiologista explica que são ainda muitas as situações que a medicina actual não consegue prever ou solucionar: «É normal que uma morte destas se dê sem qualquer tipo de sintoma prévio. Chegamos mesmo a não conseguir encontrar qualquer tipo de doença na realização da autopsia».
Por ano, mais de 700 mil adultos na Europa morrem de doença cardiovascular, fazendo desta a primeira causa de morte no mundo Ocidental. São dados do INEM, que deixam o alerta. Mas o alerta não basta. No desporto, é necessário combater a «violência competitiva em que os atletas vivem submergidos» e o «poder que certas instituições têm, impedindo os verdadeiros profissionais da cardiologia de trabalhar», diz Nuno Lousada. Isso e contrariar os jogadores que insistem em «desafiar a sua própria condição física», optando por jogar, mesmo com indicações médicas em contrário. A morte de Bruno Baião, júnior do Benfica, é um exemplo.
Mas caminhamos para um cenário positivo. Em Portugal, os atletas federados são por lei obrigados a realizar exames gerais de avaliação médico-desportiva. São também cada vez mais as instituições desportivas que aderem ao Plano Nacional de Desfibrilhação Automática Externa (PNDAE). E há um acompanhamento dos desportistas por profissionais capazes de lidar com este tipo de incidentes cardíacos. Como diria Nuno Lousada, «o primeiro passo está dado...agora é continuar!».

10 de junho de 2012

Filhos da Rua

Lagos é a maior cidade do país, e a segunda maior em todo o Continente Africano. Os últimos dados das Nações Unidas estimam que mais de 10 milhões de pessoas vivem nestas ruas.
A população cresce dia após dia e com ela crescem as dificuldades. A oferta habitacional não chega para todos, os serviços públicos estão cada vez mais longe das pessoas e a poluição vai contaminando ainda mais um espaço que, por si só, já é inabitável. É um país sem destino, mas quem anda realmente à deriva são as crianças.

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Edição e Locução: Tiago Martins
Imagem: UNICEF

9 de abril de 2012

Benfica e Sporting querem trazer a "Europa" para Lisboa


Dum lado a Liga dos Campeões. Do outro a Liga Europa. Um Benfica que quer reavivar a chama dos gloriosos anos 60. Um Sporting que, a fazer lembrar a famosa "Taça das Taças", luta pelo seu lugar na história do futebol europeu. Juntos representam Lisboa. Juntos representam Portugal e o futebol português.


Abril traz-nos os quartos e as meias-finais das competições europeias. O Benfica, na Liga dos Campeões, tem pela frente mais uma equipa inglesa: o Chelsea. Desvalorizado até pelo avançado Drogba, o conjunto encarnado precisa de continuar a provar que merece estar entre as oito melhores equipas da Europa. Com um percurso memorável até ao momento, o Benfica, sem sofrer uma única derrota, “rouba” o primeiro lugar do Grupo C ao Manchester United – claro favorito que até acaba eliminado. Consegue, nos oitavos-de-final, levar de vencido o Zenit, primeiro classificado da Liga Russa. E, como se não bastasse, tem em Gaitán o melhor assistente da Champions. Mas tudo se resume ao dia 4 de Abril, data em que o clube encarnado ou chega às meias-finais, 24 anos depois, ou diz adeus ao sonho. Se passar, terá de enfrentar o AC Milan ou o Barcelona.
Já o Sporting pode chegar às meias e lá lutar por um lugar na final contra os alemães do Schalke 04 ou contra os espanhóis do Atlético de Bilbau. Mas primeiro terá de sobreviver às baixas temperaturas do Este ucraniano quando se deslocar a Carcóvia para enfrentar o Metalist. Vai ser uma eliminatória difícil para o clube lisboeta, mas a vitória sobre o Manchester City – equipa mais valiosa em Inglaterra, com um activo que ultrapassa os 400 milhões de euros – pinta de verde a esperança dos leões.
É a 9 e 19 de Maio que se resolvem a Liga Europa e a Liga dos Campeões, respectivamente. Portugal vai lá estar, na raça, e com o desejo de trazer para casa os dois maiores troféus europeus.

16 de março de 2012

Confrontos após manifestação da Greve Geral

Os anónimos culpados

A responsabilidade dos jornalistas para com o público está acima de qualquer outra responsabilidade, nomeadamente da que assumem perante as administrações e os poderes públicos.

Declaração dos Deveres e Direitos dos Jornalistas,
aprovada a 24 e 25 de Novembro de 1971

Serve este trabalho para tentar colmatar aquelas que foram as sucessivas falhas da nossa comunicação social na cobertura e posterior análise dos confrontos entre polícia e manifestantes no período pós-manifestação da greve geral de dia 24 de Novembro de 2011.
Contextualizando, esta foi a primeira greve geral, desde o 25 de Abril, em que se viu uma manifestação a ser convocada para o mesmo dia em que o país pararia. O protesto foi agendado para a capital e concentrou-se em frente à Assembleia da República, tendo durado cerca de duas horas. Vale ainda a pena salientar, por fim, que esta é a sétima greve geral no nosso país desde a Revolução dos Cravos. Mas é também a segunda em apenas dois anos.
Como proceder então à análise deste caso? Antes de mais, faz sentido explicar o meu interesse em “dissertar” sobre tal tema: Fui um dos (poucos) jornalistas presentes durante todo o decorrer dos acontecimentos e sei, no final, o que vi e o que não vi. Posso assim explanar todo o caso segundo uma perspectiva de vivência directa e inequívoca, recorrendo apenas a fontes externas para fortalecer e consolidar os meus pontos de vista, que acabam por ir de encontro àqueles apresentados pela maioria dos órgãos de comunicação social. Mas já lá vamos. Antes de mais, defino os parâmetros e as perspectivas através das quais procederei à exposição deste preciso caso de falta de ética no nosso jornalismo. Interessa, para isso, referir que concentrarei a minha atenção na “informação actualizada”, na “informação do momento”. Quer isto dizer que terei sob a minha atenção, só e unicamente, o jornalismo online. Quer também dizer que escolhi três notícias específicas para serem o cerne do meu trabalho, a razão das razões para ter escolhido tal tema. Estas três notícias serão então o exemplo perfeito – segundo a minha perspectiva – do jornalismo desleal, que não vamos querer praticar no futuro, do jornalismo que faz aos outros o que não gostávamos que nos fizessem a nós. São elas: “Greve: Cordão policial, encontrões e detenções em 'manif'”, pelo Correio da Manhã (http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/greve-cordao-policial-encontroes-e-detencoes-em-manif); “Greve geral: Sindicatos denunciam infiltrados”, também pelo Correio da Manhã (http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/greve-geral-sindicatos-denunciam-infiltrados); “Sete detidos e um polícia hospitalizado após a manifestação à porta do Parlamento”, pelo Público (http://economia.publico.pt/Noticia/quatro-detidos-e-um-policia-hispitalizado-apos-a-manifestacao-a-porta-do-parlamento-1522434).
O que é que está, na minha opinião, por detrás deste “hediondo” caso? Infelizmente, acho que não é sequer seguro ou aceitável acusarmos estes profissionais de serem maus jornalistas – ainda que o sejam. Na base deste tipo de artigos está um problema muito maior do que a incompetência de um ou outro jornalista de “pé-descalço”: a constante pressão em publicar notícias e actualizações minuto a minuto, numa tentativa de ultrapassar os órgãos de comunicação social adversários/concorrentes. Que o Jornalismo se pauta, desde a sua grande proliferação, em meados do séc. XIX, por ser uma actividade de constante rivalidade em busca da melhor e mais rápida notícia, isso não podemos desmentir. Aliás, tem sido essa perspectiva que tem levado à aposta económica e editorial na área, factor que contribuiu em muito para o crescimento – e surgimento – da profissão de jornalista. Mas daí a acreditarmos que é a constante disputa entre órgãos de comunicação social que contribui para o verdadeiro desenvolvimento do jornalismo ético, leal e factual ainda vai um longo – e tortuoso – caminho. E este trabalho procura ir ao encontro dessa abordagem, relembrando que o jornalista tem o dever de cumprir com o seu, lá está, dever para com a sociedade, informando-a, alertando-a e tomando uma posição de sinceridade e entrega para com aqueles a quem escreve. Tento assim provar que, cada vez mais, o jornalismo online – tomando estes três casos como exemplo – tem contribuído para o declínio da seriedade e integridade jornalística «na medida em que a velocidade implica um condicionamento sobre o fabrico da informação, que pode traduzir-se (...) na divulgação prematura de uma notícia ou numa sua elaboração precipitada - antes de fazer a investigação mínima, proceder às necessárias confirmações, etc. - apenas e só para que se consiga ultrapassar a concorrência»[1].
E é este negócio, esta avareza e esta constante sede de domínio e de póstumo reconhecimento que acaba por envenenar as informações que ao público são passadas. Exemplo perfeito disto mesmo são os constantes “telexes” da Agência Lusa que somos “obrigados” a ler nos sítios online dos jornais portugueses, porque não há tempo, interesse e/ou dedicação para dar ao leitor, ao público, à sociedade mais do que isso: uma notícia séria, verdadeira e confirmada pelo maior número de fontes fiáveis possíveis. O jornalismo online tem assim, e como mostrado, um ainda extenso caminho para percorrer, tendo como grande meta a seriedade e o cumprimento dos valores éticos dignos de qualquer jornalista. «Os direitos dos jornalistas têm a natureza de poderes-deveres, isto é, de poderes que devem ser exercidos; são, na terminologia técnico-jurídica, "funções", direitos irrenunciáveis, e que, justamente em virtude da sua natureza funcional, são atribuídos acompanhados da imposição (jurídica) de os exercer»[2].
Mas voltemos ao caso aqui em análise. Começo por tentar separar o trigo do joio, clarificando o que realmente se passou no dia 24 de Novembro. Como é sabido, uma greve geral havia sido convocada pelas duas centrais sindicais, a União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses (CGTP-IN). Para além disso, e pela primeira vez na jovem democracia portuguesa, uma das centrais sindicais – a CGTP – decidiu também organizar uma manifestação de rua, com o intuito de demonstrar a perseverança da luta contra o endurecimento das políticas de austeridade deste novo governo PSD-CDS. A UGT, neste específico caso, alheou-se de tal medida e não esteve sequer presente nos protestos.
Acontece que, como em qualquer outra greve geral, os confrontos entre polícia e grevistas começaram cedo. De madrugada houve piquetes a impedirem a entrada de funcionários nos seus lugares de trabalho e, em resposta, houve também agressões aos constituintes desses mesmos piquetes. Em certos casos, a polícia chegou mesmo a exagerar na intervenção e fez da violência uma constante, impossibilitando até os piquetes de greve de cumprirem com a sua tarefa de diálogo, de forma a persuadir por meios pacíficos os trabalhadores a aderirem à greve: “Incidentes entre a polícia e o piquete de greve na estação da Carris na Musgueira”, pela RTP (http://www.rtp.pt/noticias/index.php?article=502961&tm=8&layout=122&visual=61). A estes incidentes juntaram-se outros, bem mais raros e inimagináveis, que incluíram o arremesso de latas de tinta e de cocktails molotov durante esta manhã de quinta-feira, dia 24: “Repartições de Finanças atacadas com 'cocktails molotov'”, pelo Diário de Notícias (http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=2145774). Como dá assim para perceber, estava assim a instalar-se um clima de suspeição e de desconfiança entre os dois lados – polícia e plataformas sindicais. Ainda que Carvalho da Silva e João Proença tenham vindo a censurar todos esses acontecimentos durante os constantes depoimentos que iam facultando aos meios de comunicação social, a CGTP e os grevistas acabaram ainda assim por se ver a braços com uma acusação muito séria. E é aqui que voltamos às três notícias anteriormente referidas e que constituem o meu caso (as duas do Correio da Manhã e a outra do Público).
Tendo estado presente na manifestação, desde o primeiro segundo, posso adiantar que a mesma não foi organizada da melhor forma. Foi anunciado por todo o lado que o protesto seria em frente à Assembleia da República (AR), por volta das 15h00, mas a verdade é que os manifestantes ficaram de marchar pela baixa lisboeta, arrancando do Rossio, isso sim, às 15h00. Depois desfilariam junto ao rio, até começarem a subir, já no fim, pela Calçada da Estrela, em direcção à AR. Todos os jornalistas presentes no local estavam confusos e percebia-se que nas redacções era também dia de greve (problemas na comunicação, poucos meios, etc.). Quando os manifestantes por fim chegaram – às 16h00 – era visível que os órgãos de comunicação social não os tinham acompanhado na marcha. Os cerca de seis jornalistas que ali estavam perto de mim, eram, portanto, os únicos a cobrir o acontecimento. Quero deixar este facto bem claro para que se perceba posteriormente que o corrupio de informações pouco fidedignas e raramente confirmadas partiu de um ou outro meio de comunicação, tendo chegado, por arrasto, aos restantes, que, aproveitando a maré, remaram por aí acima num mar de complicações e “inverdades” que vieram pôr em causa os verdadeiros motivos dos confrontos agora aqui abordados.
Olhemos então para a primeira notícia - “Greve: Cordão policial, encontrões e detenções em 'manif'”, pelo Correio da Manhã (http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/economia/greve-cordao-policial-encontroes-e-detencoes-em-manif): repare-se, antes de mais, no facto de termos perante os nossos olhos uma notícia repleta de inúmeros “factos” e de actualizações, publicada na precisa altura da manifestação, mas que não está sequer assinada. Não tem autor. Nem remete para uma possível agência de notícias. Nada. Aqui começa o “jornalismo responsável”. Depois, temos de olhar para a intemporalidade dos factos. Repito que estive presente durante a manifestação e tudo o que é descrito na notícia aqui em questão é uma espampanante mentira. Aliás, e corrijo-me, é uma mentira cheia de verdades. Isto porque se confunde o leitor misturando factos e acontecimentos que não ocorreram nas mesmas alturas: «Algumas grades foram derrubadas, na tentativa dos participantes subirem a escadaria da Assembleia da República. (...) Junto ao palco está um cartaz que simula um placar de cortiça com 'post it' com o título ‘A greve hora a hora'. (...) Os manifestantes cantam agora 'Grândola Vila Morena', de Zeca Afonso». Olhe-se para a citação. Lá definimos três acontecimentos. Três acontecimentos esses que nunca se chegaram a relacionar. O primeiro ocorreu perto das 18h00. O segundo deu-se entre as 16h00 – altura da chegada dos manifestantes – e as 17h45 – altura em que os mesmos manifestantes abandonaram o local. E o terceiro foi perto das 17h45, no final do discurso de Carvalho da Silva. Lendo-se a notícia, deduz-se que os grevistas estão ainda no local, a arremessar garrafas, a ofenderem os agentes da autoridade e a derrubarem grades, tudo ao som de Zeca Afonso. E chegamos, por fim, à falta de respeito e à falta de ética neste caso. Segundo o Correio da Manhã, que podia muito bem nem estar no local – facto que não consigo corroborar ou desmentir -, os indivíduos envolvidos nos confrontos eram grevistas. Porquê? Porque não estava lá mais ninguém! E a notícia comprova toda essa “tese”. Mas agora aprofundamos esta análise, chegando à segunda notícia - “Greve geral: Sindicatos denunciam infiltrados”, também pelo Correio da Manhã (http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/exclusivo-cm/greve-geral-sindicatos-denunciam-infiltrados).
Ao que parece, “até” nem foram os grevistas os envolvidos nas cenas de violência que tomaram lugar em frente à AR. Curioso não deixa de ser o facto de o Correio da Manhã apenas fornecer esta informação só quase 24 horas depois – no dia 25 de Novembro. Mas vamos aceitar o sucedido. Todos os esforços em prol da restituição da verdade devem ser respeitados e enaltecidos. No entanto, acaba por não ser bem esse o caso. Vejamos: «Assim que marcaram a greve geral de ontem, os dirigentes das duas centrais sindicais (CGTP e UGT) manifestaram à PSP a preocupação de que as manifestações a realizar no dia do protesto pudessem contar com infiltrações de movimentos anarquistas». Ora bem, quem marcou a manifestação – repito-me propositadamente – foi a CGTP. A UGT demarcou-se totalmente da iniciativa. Ou a notícia começa por ser, desde logo, mal construída, ou estamos já a mentir. Depois, relatam os três jornalistas do Correio da Manhã, «ao longo do corrente mês, dirigentes da CGTP e da UGT reuniram-se por várias ocasiões com responsáveis das Forças de Segurança» tudo para que a polícia controlasse, da forma que entendesse, os manifestantes que não fossem grevistas. Quer isto dizer que Carvalho da Silva, o responsável que veio condenar os actos de violência perpetrados pela PSP e GNR relativamente aos piquetes de greve - anunciando até no seu discurso em frente aos manifestantes a intervenção da polícia como «indigna», alegando que nenhum agente tem «a capacidade legal para violentar um grevista» - é o mesmo homem capaz de combinar à socapa uma «estratégia - com agentes à civil e com uma "visibilidade policial" pouco ostensiva»? Estamos a fazer aqui acusações gravíssimas. E quais as fontes citadas para comprovar tal cenário de conspiração? Nenhumas. Perdão, há uma fonte: «A preocupação foi ganhando expressão (...) admitiu ao CM fonte sindical». Nada faz sentido nesta notícia. Absolutamente nada. E é citada uma fonte que não consegue ser comprovada. Não há sequer uma justificação para o nome da mesma não ser referido. Porquê o anonimato, então? «O exemplo mais visível de infracção deontológica é o uso e o abuso do recurso às chamadas "fontes anónimas" (…). Exceptuando casos especiais, aliás previstos no Código, não é defensável a sua utilização. Muito menos quando o objectivo é (…) dar cobertura a simples boatos ou especulações»[3]Não terá sido este o caso?...
Mas não acabam aqui as “estórias” mal contadas. Há mais: «Os temores vieram a confirmar-se, com a tentativa de invasão do Parlamento protagonizada, ao final da tarde, por radicais infiltrados no Movimento “Indignados”». Radicais infiltrados num movimento? O que é que isso quer dizer? Volto a perguntar: onde estão as fontes? Não existem. Mas o mais grave é que os pormenores não batem certo. Ainda que a CGTP se tenha afastado dos restantes movimentos presentes na manifestação, o próprio Carvalho da Silva, quando subiu ao palco para o seu discurso, agradeceu a todos os que se tinham juntado aos grevistas. Estava lá e ouvi-o. Não havia portanto toda essa animosidade relatada pelo Correio da Manhã. Para além disso, é descabido e errado, primeiro, tratar este tipo de movimentos por «movimentos anarquistas», e segundo, colocar todos os participantes no mesmo “saco”, alegando que todos faziam parte dos tais “Indignados”. Mas isso até nem é um erro crasso por parte do Correio da Manhã visto que todos os órgãos de comunicação social têm utilizado esse nome para se referirem a todo este tipo de movimentos, independentemente de quem realmente participa – ou não – deles. Quer isto dizer que o “15 de Outubro (ex-Geração à Rasca)”, os “Precários Inflexíveis”, as “Acampada Lisboa” e “Acampada Coimbra”, o “Ocupar Lisboa”, os “Anonymous”, e o “ZeitGeist” – movimentos que estiveram presentes na greve geral e que o anunciaram nos seus respectivos sites - são todos “Indignados”. Pronto. Perdoem-me o tom irónico, mas poupa-se papel e põem-se os «militante anarcas» - alcunha dada pelo Correio da Manhã - todos no mesmo patamar e na mesma organização que é para não dar tanto trabalho a escrever. Para além de falta de ética, começamos a atingir o patamar do ridículo. Mas a – mais provável – realidade dos factos não surge nem nesta notícia, nem na seguinte: “Sete detidos e um polícia hospitalizado após a manifestação à porta do Parlamento”, pelo Público (http://economia.publico.pt/Noticia/quatro-detidos-e-um-policia-hispitalizado-apos-a-manifestacao-a-porta-do-parlamento-1522434).
Trouxe para a discussão este artigo à responsabilidade do Público porque o mesmo é extremamente incriminatório e incendiário. Veja-se que é publicado no dia da manifestação e apenas uma hora depois dos confrontos (19h08), mas vem já repleto de certezas e de verdades inquestionáveis. Começa logo com uma frase descabida na entrada: «Mesmo em dia de greve geral a unidade é uma coisa muito relativa». E continua, desta feita, com uma mentira: «Depois de não ter conseguido chegar a um acordo com os dirigentes sindicais para organizar um desfile conjunto em Lisboa até ao Parlamento». É caricato ler esta informação, quando, no dia anterior ao da manifestação, várias plataformas online ligadas à própria CGTP haviam assegurado a participação destes movimentos independentes no protesto. Se tal era uma estratégia, não sei. Mas a verdade é que no seguimento da manifestação e de todos estes confrontos («Alguns usaram mesmo os paus das bandeiras vermelhas para criarem uma barreira que impediu os “indignados” de avançar e de se misturarem com o resto da multidão») não houve um único movimento que viesse protestar dessas supostas acções levadas a cabo pela CGTP ou pelos seus membros sindicalizados. Mais uma vez: há muita coisa nesta “estória” que não bate certo. O jornalista tem o dever de acrescentar ao seu relato informações, dados e depoimentos que de facto confirmem o que este está a dizer. E a verdade é que olhamos para esta notícia e não vemos nada disso. A única fonte, que passa até despercebida, surge no terceiro parágrafo, na altura em que se comentam as detenções realizadas pela polícia: «Acabaram por ser detidas sete pessoas, segundo informação confirmada pela PSP». A pergunta que fica no ar é óbvia: mas afinal as três jornalistas estão a complementar o seu relato da história unicamente com o depoimento da polícia? É grave: «Um jornalista, cobrindo um movimento de massa ou uma situação de agitação social, continua a seguir a prática jornalística e procura alguém autorizado. O resultado frequente é que chamam outras instituições para informação - quadros da polícia, sociólogos e, sempre, os funcionários do Estado - muitos deles porta-vozes das instituições que estão sob desafio dos movimentos de massa»[4]E, desta forma, surgem perante nós os últimos detalhes que só são conhecidos dias mais tarde (29 de Novembro).
O risco de recorrer unicamente às declarações da polícia ou do Ministério da Administração Interna remete para o facto de estes depoimentos serem do “tipo cassete”. Mesmo que algo tenha corrido mal, o jornalista nunca o vai saber através de um comissário da PSP, por exemplo. Faz sentido que assim seja, infelizmente. E, neste preciso caso, vem-se a confirmar que algo falhou realmente no que toca à intervenção da polícia: «“Houve polícias à civil a incitar à violência” na manifestação do passado dia 24 de Novembro, dia da greve geral. A acusação é da Plataforma 15 de Outubro, que integra o movimento dos ‘indignados’» (“Plataforma acusa polícia de incitar à violência na manifestação da greve geral”, pela Rádio Renascença [http://rr.sapo.pt/informacao_detalhe.aspx?did=40925&fid=25]). Este facto é trazido à tona pelos tais «anarcas» que queriam apenas e somente invadir o Parlamento. O ministro Miguel Macedo foi implicado no caso pelos queixosos e a verdade é que também não se conseguiu distanciar de um presumível envolvimento. A PSP, essa, é que acabou mesmo por cair na boca do lobo, vendo-se obrigada a abrir «um inquérito interno de averiguações sobre o vídeo das agressões a um jovem alemão após a manifestação» - um dos casos que demonstrava a brutalidade policial e o facto de existirem mesmo agentes à paisana entre os manifestantes (“Há provas de polícias à civil a incitarem à violência no dia da greve geral”, pelo Jornal de Notícias [http://www.jn.pt/PaginaInicial/Seguranca/Interior.aspx?content_id=2156488&page=2]; “PSP investiga violência com agentes à paisana no dia da greve”, pela SIC Notícias [http://sicnoticias.sapo.pt/pais/article1037746.ece]).
No final, cinco dos sete manifestantes detidos estão a ser julgados (“Greve geral: detidos com julgamentos adiados”, pela TVI24 [http://www.tvi24.iol.pt/aa---videos---sociedade/greve-greve-geral-detidos-ar-julgamento-tvi24/1302697-5795.html]). Mas o inquérito interno de averiguações da PSP ficou esquecido. Os culpados ficam, como sempre, no “anonimato”.


[1] Fernando Correia – Os Jornalistas e as Notícias; Lisboa; Editorial Caminho, SA; 1997; pp. 206 e 207
[2] Sara Pina – A Deontologia dos Jornalistas Portugueses – Estudo comparado dos códigos deontológicos de 1976 e de 1993; Coimbra; Livraria Minerva Editora; 2000; p. 136
[3] Fernando Correia – Os Jornalistas e as Notícias; Lisboa; Editorial Caminho, SA; 1997; p. 219
[4] Rogério Santos – A Negociação entre Jornalistas e Fontes; Coimbra; Livraria Minerva Editora; 1997; p. 28

22 de janeiro de 2012

Morte de Cesária Évora

A "sodade" volta a Cabo Verde

«Cabo Verde fica mais pobre, da mesma forma que ficou mais rico quando ela nasceu, porque nasceu uma estrela. Uma estrela que brilhará sempre através da sua música». Foi assim que o conterrâneo de Cesária Évora, o músico Tito Paris, encarou a morte da cantora. Cesária, com 70 anos, não resistiu a uma crise de insuficiência cardio-respiratória aguda. Morreu no passado dia 17 de Dezembro, no Hospital Baptista de Sousa, na ilha de São Vicente.
Nascida a 27 de Agosto de 1941, no Mindelo, Cabo Verde, a “Diva dos pés descalços” – como ficou internacionalmente conhecida – conseguiu colocar a cultura e a música do seu país na boca do mundo. Ficou órfã muito cedo, logo aos 15 anos, altura em que, para sustentar a família, seguiu as pisadas do tio, “B Leza”, e começou a cantar em bares. Interpretou, ao longo dos seus 45 anos de carreira, inúmeras coladeras, canções inebriantes escritas para dançar, e ficou reconhecida como a “Rainha da Morna”, o chamado blues cabo-verdiano. Lançou 24 álbuns originais, um DVD – “Ao Vivo em Paris” - e participou em 4 colaborações com artistas de peso. Cantou, encantou e fez a sua voz triste, mas inspiradora, percorrer o mundo.
Mas também no seu caminho se deparou com inúmeros obstáculos e dificuldades. Para além de crescer na pobreza, de se ter visto obrigada a trabalhar em vez de estudar e de nunca ter conseguido constituir família, em 1975, já com 30 anos, Cesária, viu-se obrigada a deixar de cantar para poder sustentar os seus dois filhos. Durante este negro e difícil período da sua vida, que se viria a prolongar por mais de dez anos, a cantora acabou por recorrer incessantemente ao álcool, como se de um refúgio se tratasse. Enquanto Cabo Verde celebrava a sua independência a “Rainha” abandonava os palcos, tornava-se alcoólica e começava a trabalhar noutra área. Felizmente, acabou por lá não ter sucesso.
Afugentou os seus fantasmas e, em 1985, deixa a terra natal para ir para Portugal gravar um disco da OMCV (Organização das Mulheres de Cabo Verde). Começavam a sair entretanto os seus primeiros singles. Meses depois grava o segundo disco, mas é em 1987, que dá o “salto”...literalmente. Enquanto cantava num bar atraiu a atenção de José da Silva, tendo mais tarde combinado com o mesmo partir para França com o intuito de dar a conhecer a sua música ao mundo. Conseguiu e, desde então, pôde sempre contar com José – ou “Djô” – como seu produtor musical e amigo.
Tornou-se uma lenda e a sua morte foi noticiada um pouco por todo o globo. Deixou a sua marca e marcou também o lugar de Cabo Verde na música. E até no seu final de carreira conseguiu ser brilhante. Em 2004 é galardoada com um “Grammy Award for Best Contemporary World Music Album”. Três anos mais tarde é condecorada em França com a Ordem de Cavaleiro da Legião de Honra, enquanto em 2009 recebe a Medalha dessa mesma Legião. Humilde e (ainda) sonhadora morre Embaixadora da boa vontade da Organização da ONU para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO). Morre feliz. Morre e deixa sodade.