5 de abril de 2010

O "Grego" da Danone

A Danone saiu um dia de casa e pensou para consigo mesma: "A malta já não lambe muito para os iogurtes, pa. Agora os jovens só gostam é de cerveja, sangria e shot's com labaredas. O que há-de, então, uma marca milenar, como eu, fazer? Como hei-de contrariar tal frustrante tendência alcoólica?!" Escusado será dizer que a Danone também já tinha comido a sua considerável conta de sopas de cavalo cansado quando teve a brilhante ideia de trazer ao mundo, nada mais, nada menos, que: O iogurte "Grego"!
Até aqui tudo bem. Era preciso um chamamento! Era preciso um novo produto que despertasse paixões e levantasse a colher de multidões! Era preciso um iogurte que deleitasse bocas e suas associadas línguas! Era preciso um sabor dos deuses! Era preciso uma paixão, uma daquelas de enlouquecer o mais são dos seres humanos! Era preciso o "Grego"! Ó se era, ó se era!
Meu Deus, como esperámos por tal pequeno e delicado boião de vidro! Jesus Senhor, quanta punição aguentámos só para irmos, sem medos, ao "Grego"! Obrigado ó imponentes e sempre omnipresentes analistas, investidores e accionistas da Danone! Que a consistência iogurtica ilumine a vossa emblemática presença e os vossos sempre conjuntos esforços! Hoje há o "Grego"! Há dias em que o mundo ganha sentido, se os há!
Saiu então o "Grego". Saiu com toda a sua força e pujança. Saiu e conquistou. O malandro, com a sua bela textura e interessante cor, piscou logo o olho a tudo o que eram fêmeas malucas pelas dietas e fê-las esquecer o fatídico selo Light, fê-las esquecer o marido que chega tarde a casa, fê-las esquecer os tachos e panelas por lavar, fê-las esquecer o sacana do puto que anda a comer macacos e a levantar as saias às meninas em vez de prestar atenção nas aulas. Esqueceram tudo, tudo isso e, assim, fervorosamente, ele levou-as a si, levou-as ao "Grego"! E como elas gostaram! Como elas gostaram do "Grego"! Mas ele não se ficou por aí. Não! Afinal, era o novo trunfo da Danone. Era o menino de ouro lá do sítio, não lhe bastavam, pois, as donas de casa ou as mães solteiras com dois empregos e turnos extra para dar e vender. Ele queria mais!
Lavou então o boião, penteou preciosamente o seu topo cremoso, escorreu a chata da aguadilha da qual ninguém gosta, ajeitou as simpáticas letrinhas cravadas em relevo no seu vidro, pediu uma caixa de cara lavada e inovadora aos tais dos accionistas e à malta do marketing e lá foi ele, todo gingão, encontrar não quem quisesse um "Grego", mas desafiar mundos e fundos a irem ao "Grego", a precisarem do "Grego" como nunca a história da humanidade havia visto ou escrito nas suas largas páginas de existência. E agora é a criança, é o bebé, é o avô, é o próprio do jovem que já largou a garrafa de litro e meio para botar a colher no tal do vasilhame, sem tara perdida, refira-se, para fazer o favor ao sacaninha do estômago que ronca e pede por alimento. Agora comemos "Grego"! Agora ligamos a televisão e ouvimos "Compre já o novo 'Grego'! É delicioso e ajuda à digestão!". Agora saímos de casa e levamos com uma descarga de "Grego" em cima, espalhado pelas prateleiras dos supermercados, dentro dos frigoríficos das famílias e colado em cartazes, daqueles bem grandes e que dizem "O SEU ANÚNCIO AQUI!".
Leiam isto, meus caros amigos da Danone. Leiam isto com muita atenção e depois respondam à seguinte pergunta: Não seria possível arranjarem uma merda de um nome que não me fizesse pensar em vomitado quando meto uma porra de uma colher cheia de iogurte à boca?!
Obrigado e um bem-haja.

"Danone Grego": O melhor Grego para qualquer Labrego!

4 de abril de 2010

"Let's go to the Punk-Rock show!"

Deixem-me dizê-lo: sabe tão bem fazer barulho!
Nunca fui grande fã de Punk-Rock. Nunca ouvi assim grandes bandas de Punk e admito não possuir grande bagagem cultural relativamente ao estilo em si, propriamente dito. Mas é nesta altura em que me pergunto: "E é preciso?"
Vai para pouco mais de um mês que me juntei a uma banda. Lá encontrei, tal como já esperava, quatro putos, uns anos mais novos do que eu, totalmente desmiolados, desregrados e desorganizados. Pensei que tal projecto acabaria por sair furado. Pensei que não havia bases para chegarmos a um qualquer lado. Pensei mesmo que não tínhamos o que era preciso para algum dia virmos a fazer música, música a sério. A verdade é que ainda não temos, mas já não penso dessa mesma forma.
A verdade é que encontrei nesses quatro putos um bocado da estúpida rebeldia que às vezes nos faz tanta falta durante a juventude, durante a belíssima da puberdade, como os "crescidos" tanto lhe gostam de chamar. Concluí que nunca fui rebelde, que não o sou, que nunca o hei-de ser, mas que é possível ter os meus momentos de contra-ordenarão permanecendo fiel a mim mesmo e dando espaço a um outro irreverente Tiago para pisar este Mundo e explicitar, da forma mais sarcástica possível, a irrelevância que o próprio Mundo tem tantas vezes neste nosso dia-a-dia, nesta nossa vida. E porra, como a música tem essa capacidade de me fazer sentir livre, de me fazer voar sem querer saber de destinos ou sítios por onde parar ou por onde aterrar. A música é uma daquelas poucas coisas tão irreais e simultaneamente verdadeiras que temos o prazer de conhecer ao longo destas nossas curtas existências terrestres. Há que saber beber e degustar cada um dos seus sons, cada uma das suas notas, cada uma das suas pequenas, mas importantes letras, cada um dos seus ritmados versos, cada uma das suas inteligentes rimas e cada uma das suas estruturadas estrofes, uma por uma e todos ao mesmo tempo. É o verdadeiro exponente da loucura e do brilhantismo! E é, também, a verdadeira prova de que são ambos conceitos relacionáveis e em tudo importantes e inerentes à vida humana.
Dia 1 de Abril foi uma pequena prova dessa mesma realidade que vos tento aqui hoje impingir. Os "Bullet in the System" subiram a um reduzido, mas acolhedor palco, encheram-se de coragem, ainda que completamente borrados, e tocaram, apesar dos vários erros, com todo aquela rebeldia, com toda aquela força que a música dispensa explicação. O "Rock in Chiado" ouviu apenas seis músicas, nenhuma delas nossa, tudo covers, mas eu e estes meus quatro "putos" desmiolados ouvimos uma hipótese de futuro. Não um futuro de fama, sexo, drogas ou Rock & Roll, mas um futuro, por si só, ligado a uns quantos acordes, a uns quantos desafinanços e a uma futura união e amizade que o tempo guardará, dê lá por onde der.

Obrigado, Chiado. Tenham uma boa noite.