26 de fevereiro de 2010

Acordes de Loucura


Dediquei-me, vai para duas semanas, a uma antiga aventura de miúdo. Dá pelo nome de música e envolve, felizmente, muito barulho. Poderia até manter-se pelos registos mais calmos, simples e simultaneamente interessantes. Sim, poderia. Mas esse não seria eu. E a piada perder-se-ia.
O que vai mal na música? Aliás, o que vai de mal na minha cabeça e na de tantas outras “mentes desocupadas” para ocuparem o seu espaço intelectual com breves e infrutíferas questões como esta? Em que panorama interessam meia dúzia de acordes, ainda que nada desafinados, no meio de uma impecável crise como esta que atravessamos? Já pedi desculpas a todos os santinhos e benzi-me hoje de manhã ao passar pela Igreja da minha freguesia, mas as minhas artérias pulsam de tal forma que continuarei a dizê-lo e a afirmá-lo com tanta ou mais força do que aquela com que Jimi Hendrix usava para partir, em tom de brincadeira, uma qualquer Stratocaster no final de um concerto...sim, interessa. Simplesmente interessa.
O que distingue o ser humano das restantes espécies vivas? Não é a habilidade de comunicação ou racionalização, mas sim a loucura. Não, não sei quem o disse, ou mesmo se tal conceito foi alguma vez empregue, mas chego-me à frente e assumo a posição de cabeça erguida. Sou louco. Sou louco por me deslocar todas as semanas, seja por uma ou duas vezes, a um estúdio de gravação para os lados do Lumiar e lá, quase que em tom de adolescente rebelde e imparável, gritar a plenos pulmões as letras que determinada banda resolveu um dia dar a conhecer a todo o Mundo. Também eu o quero fazer. Também eu já faço as minhas letras, os meus devaneios criativos e, mais uma vez louco, acho-me sinceramente bom.
O problema da nossa sociedade não anda à volta do desprezo pela música ou por qualquer outra manifestação cultural. Nada tem a ver com o facto de sermos 12 milhões de habitantes e apenas 11 saberem ler e escrever. Não se concentra na incapacidade ininterrupta de trabalharmos por este presente ou mesmo por um futuro promissor. Está na loucura. Entenda-se: está na escassez de loucura com que enfrentamos o dia-a-dia e, acima de tudo, a nossa vida.
Já dizia Anatole, escritor Francês, “Preferi sempre a loucura das paixões à sabedoria da indiferença”. Ora, obrigado!