14 de março de 2014

Tottenham 1-3 Benfica: Bifes? Peanuts!

Há noites que não se esquecem. Um primeiro beijo. Uma estúpida bebedeira. Uma boa “conversa” de cama. A morte de um familiar próximo. O adeus a um amigo que segue para o estrangeiro. Um fantástico jogo de futebol. Hoje vivemos e respirámos um desses. Um desses jogos que, de tão fantásticos, superam mesmo o conceito de “noite” e alongam-se no tempo de forma incomensurável.

Um pouco como o jogo que o Benfica levou para Inglaterra. A bem ou a mal, Jorge Jesus pegou mais uma vez neste plantel e espremeu-o de tal forma que o tornou infinito e pau para toda a obra. Aliás, as surpresas ao início foram prova disso mesmo: Oblak permaneceu na baliza, Sílvio deixou mais uma vez no banco um antigo e recorrente europeu André Almeida, Rúben Amorim preencheu o meio em detrimento de Enzo Pérez, Sulejmani deu descanso ao mágico Gaitán e Cardozo voltou à titularidade para se juntar a Rodrigo no ataque.

Começa a partida e começam também os cânticos dos Diabos Vermelhos e No Name Boys, que só se renderiam ao silêncio aquando do apito final. Um apoio de outro mundo. Benfiquistas à Benfica. E um Benfica que ameaçava não se render à casa cheia dos Spurs, que ainda andavam mal do estômago depois dos quatro golos encaixados no fim-de-semana contra o Chelsea. Adebayor, no entanto, vinha a jogo para dar trabalho a Luisão e Garay, coisa que felizmente só aconteceu nos primeiros minutos. Porque mal o Tottenham tirou o pé do acelerador foi tempo de o meio-campo encarnado rodar bola, puxar os ingleses para a frente e, com muito jeitinho, abrir espaço nas costas. E, coincidência ou não, aos 29 minutos, um lutador Rúben Amorim pega na redondinha, leva árbitro e dois adversários à frente e inventa – literalmente – um passe que é três quartos de golo. Rodrigo, com uma arrancada à Bolt, deixa o pobrezinho Naughton para trás e, da esquerda para o meio, faz um remate a fugir ao guarda-redes da casa. Sem espinhas.
Um colocadíssimo primeiro golo in Facebook do Sport Lisboa e Benfica (Isabel Cutileiro)
Ainda antes de acabar a primeira parte, o extremo esquerdo Eriksen puxa de um cruzamento que só Garay consegue travar e está dado o mote para aquele que seria o restante jogo: Benfica contra Eriksen (com a ajuda lá pelo meio de Lennon, na direita, e Kane, ao meio). Apito do árbitro e um primeiro tempo com um conjunto encarnado cheio de simplicidade e disciplina, trunfos que valiam (e justificavam) o adiantamento no marcador num jogo que o Tottenham queria claramente ganhar…mas não sabia como.

Pontapé na bola e vamos aos últimos 45 minutos. O Benfica precisava de muita cabeça e de muito auto-controlo para poder voltar a Lisboa dono e senhor desta eliminatória…e foi exactamente isso que faltou logo três minutos depois de se retomar a partida. Sem se perceber muito bem como, Luisão deixa em jogo Adebayor que sozinho e em excelente posição atira, da forma mais infantil e incrédula de sempre, o esférico para as ervas daninhas ao lado da baliza do jovem Oblak. “Mais dessas”, pedi eu aqui em casa, isto depois de atirar um copo à parede por causa da paragem cerebral do nosso capitão. Mas o Girafa quis redimir-se. Nem dez minutos depois, Rúben Amorim – que jogo enorme do português – roubou a bola a um distraído Kane e atirou para a defesa da noite. Não contente voltou a agarrar na bola, cobrou o canto para o Glorioso e Luisão fez o dois a zero com uma gloriosa cabeçada. Não fossem os festejos encarnados nas bancadas e ouvir-se-ia o ranger de dentes de Sherwood, homem que promete mudanças para o ano vindouro…arriscando-se a ser ele mesmo a maior de todas. Faltava o último prego no caixão.
O capitão Luisão assinou um bis in Facebook do Sport Lisboa e Benfica (Isabel Cutileiro)
Mas não. Porque o Benfica é assim. E porque benfiquista que é benfiquista tem de sofrer até ao fim. Depois de uma enorme arrancada pelo lado esquerdo, um inconformado Eriksen é rasteirado por um apagado Sílvio. Livre perigoso para os ingleses e um golo teleguiado. Oblak talvez pudesse ter feito mais, mas a concretização é de facto notável. O Tottenham reduzia a desvantagem numa altura em que o Benfica tinha o jogo controlado. Peito cheio de Eriksen, o único que, cheio de coração, não parou de remar contra a maré. Mas maré que é maré leva tudo consigo. E assim foi este Benfica, que não quis voltar nervoso a casa. Crédito para Jorge Jesus que tira os dois jogadores mais desaparecidos da noite, Sulejmani e Cardozo, dando espaço a Gaitán e Enzo, dois “desbloqueadores” natos. Ou vai ou racha!

E era para rachar mesmo. Rodrigo ia fazendo o terceiro depois de um erro enorme do guarda-redes Lloris e é o recém-entrado Gaitán – de prever, certo? – que minutos depois arranca a falta ao tal pobre Naughton. Conversão e Garay a atirar de cabeça para a defesa do guardião da casa, quando na recarga surge um Luisão ponta-de-lança com uma “pastilha” enorme que ainda vai à barra, mas que acaba nas redes dos Spurs.

Hora de apanhar o avião. E o resto é conversa. Ou peanuts.


A(s) Figura(s)
Luisão e Rúben Amorim - Hoje quebro as regras e elejo dois senhores do futebol encarnado. Dois que já cá andam há muito, muito tempo. Um deles merece mais. E prova-o todas as vezes que pisa o relvado. Se Luisão foi enorme, Amorim foi genial. Ela por ela. Taco a taco. E por isso um pódio repartido.

O Fora-de-Jogo
Tottenham - Perdoem-me a falta de criatividade na escolha, mas ou é o Benfica que merece estar na Champions ou é este Tottenham que não merece sequer estar numa competição além-Inglaterra. Please come back, Villas-Boas?

Artigo presente no sítio de desporto online

4 de março de 2014

Ora fia-te na Virgem e não os metas a correr, Jesus

Somos a melhor equipa em Portugal. Já o ano passado o éramos. E no ano anterior também. Vítor Pereira não era nem treinador, nem adversário para este Benfica. Nem para este, nem para o de então. E os jogadores do Porto não tinham o poderio necessário para sair por cima no final do Campeonato. Mas saíram. Por duas vezes. Seguidas. Sem espinhas. A não ser aquelas que entaladas ficaram na garganta de todos nós, benfiquistas, quando vimos o hoje-em-dia-muito-triste-e-calimero Kelvin facturar o golo mais desnorteante na história do Benfica.

Bom, e se o passado se converter em futuro? É que há um motivo para o melhor treinador em Portugal não ser campeão em catadupa: o inconseguimento – como diria Assunção Esteves. Ponha-se os olhos no Benfica dos últimos quase cinco anos: uma equipa concretizadora. Com atitude. Inteligente. Forte na defesa. Malandra no ataque. Capaz de dar cartas aqui e lá fora. Mas a quem falta sempre qualquer coisa. E o problema é que não falamos de um bom central, ou de um fantástico ponta-de-lança, ou mesmo de um rigoroso esquema táctico. Não. É mais complexo do que isso. E simultaneamente mais simples. Falta atitude! Força de vontade! Benfica à Benfica! Ah! E um treinador com mais cabeça…já para não falar numa direcção com cojones, claro.
Mais disto em campo, no banco e nos escritórios e temos Benfica campeão in ontemvi-tenoestadiodaluz.blogspot.com
Acreditar, portanto, que o Benfica é campeão só porque leva nove pontos de avanço para o Porto a nove jornadas do final é ser – à falta de melhor expressão – “fofinho”. Triste, mas verdade. Este é o melhor período das últimas duas ou três décadas e não há títulos. Nada. Zero! Não é por acaso. Aliás, nada no futebol é por acaso. A não ser, claro, os golos anulados ao sportinguistas que, lá está, por simples acaso os vão afastando dos títulos.

Excepto talvez este ano. Pessoalmente não acredito em milagres. Futebolisticamente acredito em tudo. E dou mérito – muito, muito mérito – a um treinador que tem feito o melhor trabalho que o futebol português viu esta época: Leonardo Jardim. O madeirense é bom que se farta, mas não tem ainda a maturidade para levar de vencido este conjunto encarnado. Não vira, no entanto, a cara à luta e, passo a passo, lá vai conquistando os muito preciosos pontos de que o Sporting precisa. E o clube de Alvalade vai-se aguentando. Acredito que tal estado de felicidade seja precário, mas esta é uma resiliência que assusta e não saber admiti-lo é não saber ver futebol. Esse foi, na minha humilde opinião, um dos grandes problemas do ano passado (e do anterior a esse)…não tínhamos competição. Era “peaners”. Qual campeonato a feijões. Tanto que, no final, acabámos a fazer as contas aos feijões a que o segundo lugar tinha direito em três diferentes competições.

Mostra quem manda, Messias. Prova que o motivo pelo qual estás no Benfica mais um ano não é pelo medo de te ver sair para o Porto. Estás numa equipa de deuses, Jesus. E ao teu nome é hora de fazer jus. Precisamos de mais. Queremos mais. Merecemos mais! Não o conseguir é mergulhar num profundo mar de desilusão do qual ninguém será capaz de nos salvar. A responsabilidade, hoje mais do que nunca, é tua. E como dizia Lincoln, numa nação de Homens inspiradores só há duas opções: “viver para sempre ou morrer por suicídio”.

Pois vamos para o Olimpo juntos. Sem medos. O futuro é nosso. Mas há que lutar por isso. Mete-los a correr. A suar a camisola. A sofrer traumaticamente como nós nas bancadas sofremos. A chorar. A rir. A morrer de amores. A precisar disto como nós. Só assim não haverá desculpas. Porque, venha de lá o que vier, veio depois de meses e meses de paixão deixada em campo. Já vos vimos assim. E não pode ter sido fogo de vista.

A vida nem sempre nos dá destas oportunidades. Regozijemos. Este ano fomos ao Inferno e voltámos. Com o mesmo coração com que o fizemos respondamos, no final, à pergunta: “o que nos falta?”. Nada.

Artigo presente no sítio de desporto online

27 de fevereiro de 2014

Honda Civic Tourer: Final de semana em família

Domingo. Lá fora o sol brilha, ouvem-se os pássaros chilrear, enquanto os cães cumprimentam com latidos os joggers das redondezas. E estacionado junto ao passeio está o melhor pretexto para aproveitar o bom tempo e o final de semana.
A nova aposta da Honda para o segmento C já chegou a Portugal e promete fazer muitas famílias felizes. Com um preço base de 25 900 €, a “irmã mais nova” do Civic 5 Portas aterra no mercado com o look desportivo da família, mas com muitas mais soluções. Construída em território britânico, a Civic Tourer traz consigo o espaço que tornará qualquer Domingo num dia bem passado em família: 24 cm a mais dão direito a 624 litros de bagageira, o suficiente para transportar três malas de viagem. Em alternativa, e com os bancos rebatidos, o espaço cresce para 1668. Ainda que os “bancos mágicos” da Honda tornem o rebatimento numa tarefa simples, mais simples será ainda optar por colocar as tralhas no fundo falso que oferece mais 117 litros de volume à bagageira. Bagageira essa que tem uma cobertura retráctil, que encolhe com um simples toque, e um forro feito em material de fácil limpeza.

Vendida como a primeira carrinha do mundo a ser equipada com um sistema de suspensão traseira adaptável, a Civic Tourer dá-nos a possibilidade de seleccionar os modos Comfort, Normal ou Dynamic. Escolher a primeira opção dá direito a uma base mais macia para os amortecedores, enquanto escolher a última permite explorar melhor os limites do carro, ainda que seja uma diferença quase imperceptível. Até porque a carroçaria é trabalhada de forma a apresentar um centro de gravidade mais baixo, o que provoca um bom equilíbrio entre a dianteira e a traseira. Sai beneficiada a direcção, que ganha uma engenhosa capacidade de resposta nos troços com mais curvas. A alta velocidade – mas não muita, que o motor diesel 1.6 i-DTEC não corre para lá dos 195 km/h – percebe-se que a confiança é típica de um automóvel preparado para voos mais altos.

Debaixo do capô cabem duas possibilidades: ou o supracitado diesel 1.6 ou o 1.8 i-VTEC a gasolina. Em Portugal a Honda irá apostar em força no primeiro, sendo esse o mercado mais lucrativo. E já que falamos em números, importa ainda referir que a opção diesel oferece 120 cv e um binário de 300 N.m – com emissões de apenas 99 g/km, associadas a um consumo combinado de 3,8 litros aos 100 km. Para atingir estes valores, além do habitual sistema stop/start e de uma sexta relação de caixa longa, a Civic Tourer também conta com o sistema Econ, que avisa os condutores do modo de condução mais correto.

Como o divertimento em família só vem após a segurança, a Honda trouxe para o cockpit novos sistemas de condução. Do leque destaca-se o Sistema de Travagem Ativa em Cidade, especificamente concebido para ajudar a evitar ou a amenizar os acidentes a baixa velocidade; o Avisador de Saída de Faixa, que através de uma câmara multifunções deteta e avisa, através de um sinal sonoro, quando há uma saída de faixa sem a devida sinalização; o Sistema de Reconhecimento de Sinalização de Trânsito, que reconhece automaticamente os sinais e os apresenta junto ao velocímetro; e as Informações de Ângulo Morto e de Trânsito Lateral que previnem, através da utilização de radares, embates provocados pela existência de veículos no ângulo morto de visão do condutor.
Chega por fim a hora de se fazer à estrada com o seu amor e respetivos pequerruchos, mas não sem antes optar pela versão de equipamento que melhor vos satisfaz: Comfort, Sport, Lifestyle ou Executive – por ordem de luxos e apetrechamentos. A mais simples parte dos 25 900 €, enquanto a mais elaborada estaciona nos 31 000 €.
Artigo presente na edição de 26 de Fevereiro do semanário AutoSport

26 de fevereiro de 2014

Quando a História pesa

Já chega. Dói demasiado. Se é este o preço a pagar pelo sucesso então que vivamos na inviabilidade de nos concretizarmos e de concretizarmos os nossos sonhos. No espaço de um mês chorámos a vida de duas lendas e enterrámos as suas mortes. Mas não esquecemos. Ainda vivem. Aqui, nestes corações que de sangue (encarnado) palpitam e que não sabem como despedir-se. Porque com eles aprendemos a saltar de alegria e não a murchar de tristeza.

Mário Esteves Coluna. O segundo a despedir-se. Nascido em Moçambique, o “Capitão” leva consigo mais alguns dos melhores anos da história benfiquista. E muitas histórias que nunca conheceremos. Afinal, e como cantava Rui Veloso, é mesmo verdade que quando morremos triplicamos a nossa fama. Isso e a atenção que nos dispensam. Ganhamos um outro estatuto. É triste, mas é a vida. Ou a morte. No entanto, nunca ninguém poderá acusar o Benfica e os benfiquistas de não celebrarem em vida as vidas que nos fizeram viver. Viver o futebol. Viver o desporto. Viver o amor de uma vida. Viver o que não se vive. Sente-se.

Sentamo-nos nós agora, a chorar esta solidão acompanhada, com medrosas ganas de um futuro que havemos de construir mas já sem os nossos profetas por perto. Porque a vida é isto e porque isto é a vida. A vida que é seguir em frente, sem esquecer o que lá ficou atrás. E lá atrás ficou um homem que durante 78 anos respirou e viveu futebol. Uma estrela como poucas. Daquelas que tem a sua própria luz. Daquelas que faz as outras estrelas mais pequeninas e singelas brilharem também. Talvez por isso tenha sido sempre o “Senhor Coluna”. Talvez por isso os outros nunca tenham passado de meninos. Não por faltosa modéstia, mas porque um pai é sempre um pai e pai que é pai ensina. Ajuda-nos a levantar. Mostra-nos o caminho. Põe-nos a mão na cabeça e diz, depois de uma impossível corrida com fecho de golo, “parabéns, pequeno. O futuro é teu e está aqui. Eu nunca deixei de acreditar”.
Cesare Maldini e Mário Coluna, em Wembley, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus in benficadojota.blogspot.com
Imagino-o a dizer estas palavras ao Eusébio. Ao Simões. Ao José Augusto. Ao Raúl Águas. O puto que conheceu Coluna com apenas 17 anos e que, desde então, nunca mais esqueceu a força única de um homem que nem Eusébio conseguia ofuscar. E o Pantera Negra nem almejava a tal desrespeito. Porque este homem era o Benfica. Este homem modelava o que o Benfica era. Delineava todas as aventuras e desventuras pelas quais o clube passava. E a prova disso foram os 677 encontros disputados ao longo dos 16 anos em que representou o Maior-de-Portugal.

Estreou-se no dia 5 de Setembro de 1954 e nos primeiros tempos, ao serviço de Otto Glória, foi para a frente de ataque. Pouco se demorou a perceber que o génio e a responsabilidade deste “Monstro Sagrado” – como foi apelidado por Artur Agostinho – exigia um lugar não de finalização, mas de organização. Tornou-se o mestre do meio-campo português e os dez Campeonatos e as sete Taças de Portugal provam e comprovam isso mesmo. Na Europa foi ainda um dos maiores protagonistas dos dois grandes sucessos europeus do Benfica, tendo marcado golos de sonho ao Barcelona, em ’61, e ao Real Madrid, em ’62.

Dizemos-te adeus, campeão. Ou até sempre. E com uma certa esperança intranquila e injustificada cremos, com todo este coração partido dos muitos trambolhões do nosso Benfica, que, de aí de cima, continues a olhar por nós como só tu soubeste fazer ao longo de décadas e décadas. Dentro das quatro linhas ou fora delas. Fá-lo por nós. Por ti, este será o trigésimo terceiro campeonato encarnado. E o resto é história.

Obrigado por fazeres parte da nossa.
O “Monstro” de joelhos. Hoje ficamos nós. Por ti in colunadaguiasgloriosas.blogspot.com

Artigo presente no sítio de desporto online

25 de fevereiro de 2014

Benfica 1-0 V. Guimarães: O Harry Potter de Leste voltou a fazer das suas

Portugal parou, com o coração nas mãos, para ver o que é que o Benfica fazia. O princípio do 33º campeonato começava – ou não – a desenhar-se aqui. Nesta noite. Neste jogo. Com um Sporting em começo de quebra e um Porto a rebentar pelas costuras. O futuro a quem pertence. A quem o reclama. E este tem de ser nosso. Benfica à Benfica precisa-se.

Não foi o que se viu. Um amor tímido, aquele que a equipa partilhou com os adeptos. Havia medo de perder. De não ser correspondido. De agarrar com unhas e dentes aquilo que é nosso por direito. Porquê? Somos melhores. Ninguém chega para nós. Mas há que mostrá-lo em campo. Olho por olho, dente por dente – como cantava Zeca Afonso. Com o onze do costume salpicado por algumas alterações e ausências, Jesus levava a jogo um Sílvio à direita, um Jardel ao centro e um Sulejmani à esquerda. E, surpresa das surpresas, tudo isso falhou. Mas há mais.

Num jogo em que o Benfica entrou a alto ritmo, com uma oportunidade claríssima de golo para Rodrigo logo aos dois minutos, nada fazia prever que a equipa da casa precisasse de magia para sobreviver. Uma cabeçada entre Pérez e Jardel aos cinco minutos veio matar o ímpeto encarnado e, a partir daí, foi o jogo possível. O central brasileiro não é propriamente acarinhado pela boa sorte, mas hoje tudo lhe aconteceu. Abriu a cabeça, as ligaduras não ficavam no lugar, foi obrigado a jogar com uma touca, meteu o avançado do Guimarães por duas vezes em jogo, protegeu bolas que não saíram e ainda resolveu fintar em zona proibida. Tanto quis mostrar serviço que acabou a servir…de passador.
D. Afonso Henriques...? in Facebook do SL Benfica
Passo a passo – literalmente (!) – o Benfica lá ia tentando furar por aquela que foi a melhor defesa a jogar na Luz este ano. Rui Vitória não se fez de rogado e só não levou um ponto para casa porque o Benfica tem de ser campeão. E o que tem de ser tem muita força. Ainda assim, o Guimarães deixou em campo blood, sweat and tears e teve em dois elementos os engenheiros que, tijolo por tijolo, construíram a barreira táctica que havia de desesperar mundos e fundos nas bancadas e em casa: Crivellaro é rei do meio-campo vimaranese e um guerreiro à moda antiga. O centro do campo foi dele e até Enzo e Fejsa precisaram de uma ajudinha extra – serventia de Rodrigo ou Lima; à esquerda um conhecido Leonel Olímpio que ia galgando por ali fora até despejar bola em Maazou, o pivô que também merece destaque pelo trabalho que deu à defensiva da casa. Com estas e outras diabruras o Guimarães lá se foi aguentando, sempre com dois homens junto ao detentor da bola, alas fechadas e um centro de campo de meter medo. Jogo de vai ou racha, portanto.

E o Benfica, pela varinha encantada de Markovic, lá foi e rachou. Depois de alguns sustos junto à (bem protegida) baliza de Douglas, o sérvio lá conseguiu – à terceira fantástica tentativa – tirar um coelho do chapéu…com um chapéu ao guarda-redes do Guimarães. Golo da noite, da jornada, da época e da vida do sérvio, se não contarmos com a maldade perpetrada no Estádio José Alvalade. Rodrigo, num dos poucos lances em que esteve bem, recebe a bola, roda sobre si próprio e com pózinhos de perlimpimpim faz a assistência que, a cinco minutos do intervalo, complicava as contas a Rui Vitória. Valha-nos o feiticeiro.

A partir daí veio mais do mesmo. Um Benfica desligado, podre, nauseabundo e que não mostrava amor à camisola. Do banco avistavam-se soluções, mas o mister é Jorge Jesus e não eu. Não me entendam mal: ele é que manda, sim, mas eu é que percebo do assunto. E passei o jogo inteiro a dizer que o Enzo estava em “dia não” e que o Fejsa, assim, não dava nem para a elementar distribuição de cacetada. Rúben Amorim, senhores. O jogo clamava pelo português, raios! Não houve meio até à entrada do homem. Até aos 84 minutos! E não há milagres, Jesus. Só magia. E foi a magia vinda do Leste que te safou.
Um golo de se lhe tirar o chapéu in jornalacores9.net
A Figura
Markovic – Palavras para quê? Nasceu ensinado e saiu de lá de dentro a dar toques. É estonteante. Dá até vontade de o vender por mais de 25 milhões, só para variar um bocado.

O Fora-de-Jogo
Público da Luz – Não tivessem os bilhetes sido oferecidos e estava a noite estragada. Onde anda o Benfiquismo desta gente? Fica a nota: a energia gasta no maldizer também serve para as palmas e para os cânticos. Esta equipa, independentemente do que deixa ou não em campo, merece melhores adeptos.

P.S. – Parabéns a Luisão pelo 400º. Já não se vêem destas coisas no futebol. E muita força ao nosso Mário “Capitão” Coluna. Estamos a torcer por melhores notícias.

Artigo presente no sítio de desporto online