15 de Janeiro de 2014. Nemanja Matic enche as capas dos jornais com o seu novo sorriso “à Chelsea”, e os olhos dos benfiquistas de lágrimas ainda malsofridas. O sérvio partiu. E com ele partiram as capacidades técnicas que fizeram sair da boca de Jorge Jesus o pior suspiro inconformado que um benfiquista poderia ouvir: «perdemos o melhor médio defensivo do mundo». Paz às suas chuteiras. Só faz falta quem cá está...que é o que se diz quando nos partiram o coração e nos tentamos fazer de fortes.
E fortes temos de nos manter, provando que nada nos serve de temor, a não ser nós mesmos e os tropeções que, época após época, repetimos. Quais crianças que não aprendem a apertar os atacadores dos ténis já gastos. Com a saída de Matic ficou um assunto para resolver: quem ocupará o lugar de pivot defensivo no eixo central do nosso mágico meio-campo? Há duas hipóteses. Ou Rúben Amorim ou Ljubomir Fejsa. Vamos conhecê-los.
O número 6 do Benfica in Site Oficial do Benfica |
Comecemos pelo português: 29 anos – que completará daqui a seis dias –, 1,78 metros e 74 quilos. Começou a sua carreira sénior no Belenenses, decorria o ano de 2003, tendo apenas participado em dois jogos nessa mesma época. Lá ficou até 2008, ano em que os azuis do norte conseguiram o primeiro lugar e os azuis de Belém o oitavo. O clube que se seguiu é o mesmo de hoje: o Sport Lisboa e Benfica, num negócio que terá custado um milhão de euros aos encarnados por apenas 75% do passe do português. Na primeira época, ao serviço de Quique Flores, Rúben Amorim fez 35 jogos, num total de 44 – tendo sido titular em 31 deles –, e marcou dois golos. Na época seguinte aparece Jorge Jesus e o Benfica é campeão. Amorim figura em 38 jogos, num total de 51 – tendo sido titular em 24 deles – e passa, de uma época para a outra, do lugar de quinto jogador mais utilizado do plantel para o décimo. E no ano seguinte é quando a carreira do lisboeta se “desmorona” ao abandonar o Benfica debaixo de um clima de enorme tensão, tendo sido alvo de um processo disciplinar depois de, alegadamente, se ter recusado a participar no treino seguinte à goleada sobre o Rio Ave (5-1). A 30 de Janeiro, no penúltimo dia do mercado de transferências, assina pelo Sporting de Braga por época e meia, a título de empréstimo, e, já lá, chega mesmo a afirmar que lhe parece «óbvio» que enquanto Jesus treinar os encarnados não pode voltar: «Agora estou no Braga e estou muito feliz. Foi a melhor opção que podia tomar na minha carreira». Coincidência ou não, o português volta às boas exibições e ao tal lugar de quinto jogador mais utilizado do plantel…mas arsenalista. Faz cinco golos em 36 jogos e ajuda os bracarenses a chegarem a um sensaborão quarto lugar. Acaba a temporada e volta, como que de castigo, ao clube da Luz para cumprir o último ano de contrato.
Desde que chegou, temos visto um meio-campista lutador, mas desacreditado. As lesões não têm ajudado. A primeira, na vitória frente ao Paços de Ferreira por 3-1, no dia 14 de Setembro. A segunda, na vitória frente ao Sporting por 4-3, no dia 9 de Novembro. Praticamente dois meses as separam e, em ambas, a paragem foi de um mês. Mas nem só de espinhos são feitas as rosas e a verdade é que, das poucas vezes que pôde alinhar de início, Amorim demonstrou que tem em si o que é preciso para popular o meio-campo do Benfica e assegurar que as costas de Enzo podem permanecer voltadas para Oblak – ou Artur. Fez um jogo soberbo contra o Olympiacos. Fez um jogo fulcral contra o Sporting. Mandou no meio-campo contra o Leixões. A pergunta é simples: se um jogador corresponde quando lhe dão espaço e mostra que a idade tem servido para amadurecer e compreender e proteger o centro do meio-campo como um atleta de gabarito...porque é que é necessário manter a média de entrada em campo no minuto 70? Porque jogava Matic. Pronto, tudo bem. Boa resposta. E agora? Qual é a desculpa para não jogarmos com um português – com todas as capacidades para ir ao Mundial – como titular?
O sérvio número 5 dos encarnados in Site Oficial do Benfica |
A desculpa poderá ser Ljubomir Fejsa. Sérvio, 25 anos, 1,84 metros e 75 quilos. Com uma história futebolística bem menor (e marcante) do que a do português, este recém-chegado deu os primeiros passos no Hajduk Kula, clube sérvio, onde ficou até ao ano de 2008. Ainda no mesmo ano mudou-se para o famoso Partizan de Belgrado, onde jogou durante três épocas, somando um total de 69 jogos e dois golos. De assinalar que na última temporada ao serviço dos sérvios não há registo que prove que tenha feito mais do que duas exibições (!). No entanto, as suas capacidades de preenchimento de espaços e leitura de jogo cedo o evidenciaram. O Olympiacos estava bem acordado para o possível potencial deste jovem e na época de 2011/2012 o treinador Ernesto Valverde comprou-o e colocou-o à prova em quase todos os jogos possíveis…até final de Novembro, quando Fejsa contraiu uma lesão grave, que o afastou dos relvados até final da época. Na temporada seguinte chega o português Leonardo Jardim e Fejsa passa a ocupar um lugar importante...no banco. Não participa em quase nenhum jogo até 12 de Janeiro, data que assinala o último encontro do madeirense como treinador do clube grego. A partir daí, o sérvio volta a ter direito à palavra e sobe claramente de nível participando como titular em metade dos restantes jogos que faltavam até final do ano futebolístico. No ano seguinte ainda disputou o primeiro jogo da liga grega antes de entrar no avião para Lisboa, num negócio avaliado em quatro milhões e meio de euros.
Desde que chegou, já lá vão 15 jogos, num total de 29 – tendo sido titular em 13 deles –, e algumas exibições marcantes, como seja o jogo de estreia pelo Benfica na Champions, contra o Anderlecht. Deu 2-0. Postas que estão as cartas em cima da mesa, é agora fácil perceber que talvez estes dois senhores até nem tenham perfis assim tão diferentes. E dentro de campo isso vai-se percebendo. A nível físico talvez Fejsa tenha alguma vantagem, mas no que toca ao conhecimento da equipa e do jogo por ela orquestrado, Amorim é uma mais-valia todos os dias da semana. O sérvio é mais novo e tem a experiência de dois campeonatos, mas o português tem a seu favor os dissabores das rejeições que ultrapassou com boas exibições e alguns golos. O recém-chegado manda mais nas costas do meio-campo, mas o português é o exemplo perfeito do meio-campista multidisciplinado e pluralista que o Benfica normalmente utiliza em campo. No que à garra diz respeito, venha o diabo e escolha. Ora pois, qual é, finalmente, o factor de desempate? Jorge Jesus...se é que me faço entender.
Artigo presente no sítio de desporto online
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