27 de fevereiro de 2014

Honda Civic Tourer: Final de semana em família

Domingo. Lá fora o sol brilha, ouvem-se os pássaros chilrear, enquanto os cães cumprimentam com latidos os joggers das redondezas. E estacionado junto ao passeio está o melhor pretexto para aproveitar o bom tempo e o final de semana.
A nova aposta da Honda para o segmento C já chegou a Portugal e promete fazer muitas famílias felizes. Com um preço base de 25 900 €, a “irmã mais nova” do Civic 5 Portas aterra no mercado com o look desportivo da família, mas com muitas mais soluções. Construída em território britânico, a Civic Tourer traz consigo o espaço que tornará qualquer Domingo num dia bem passado em família: 24 cm a mais dão direito a 624 litros de bagageira, o suficiente para transportar três malas de viagem. Em alternativa, e com os bancos rebatidos, o espaço cresce para 1668. Ainda que os “bancos mágicos” da Honda tornem o rebatimento numa tarefa simples, mais simples será ainda optar por colocar as tralhas no fundo falso que oferece mais 117 litros de volume à bagageira. Bagageira essa que tem uma cobertura retráctil, que encolhe com um simples toque, e um forro feito em material de fácil limpeza.

Vendida como a primeira carrinha do mundo a ser equipada com um sistema de suspensão traseira adaptável, a Civic Tourer dá-nos a possibilidade de seleccionar os modos Comfort, Normal ou Dynamic. Escolher a primeira opção dá direito a uma base mais macia para os amortecedores, enquanto escolher a última permite explorar melhor os limites do carro, ainda que seja uma diferença quase imperceptível. Até porque a carroçaria é trabalhada de forma a apresentar um centro de gravidade mais baixo, o que provoca um bom equilíbrio entre a dianteira e a traseira. Sai beneficiada a direcção, que ganha uma engenhosa capacidade de resposta nos troços com mais curvas. A alta velocidade – mas não muita, que o motor diesel 1.6 i-DTEC não corre para lá dos 195 km/h – percebe-se que a confiança é típica de um automóvel preparado para voos mais altos.

Debaixo do capô cabem duas possibilidades: ou o supracitado diesel 1.6 ou o 1.8 i-VTEC a gasolina. Em Portugal a Honda irá apostar em força no primeiro, sendo esse o mercado mais lucrativo. E já que falamos em números, importa ainda referir que a opção diesel oferece 120 cv e um binário de 300 N.m – com emissões de apenas 99 g/km, associadas a um consumo combinado de 3,8 litros aos 100 km. Para atingir estes valores, além do habitual sistema stop/start e de uma sexta relação de caixa longa, a Civic Tourer também conta com o sistema Econ, que avisa os condutores do modo de condução mais correto.

Como o divertimento em família só vem após a segurança, a Honda trouxe para o cockpit novos sistemas de condução. Do leque destaca-se o Sistema de Travagem Ativa em Cidade, especificamente concebido para ajudar a evitar ou a amenizar os acidentes a baixa velocidade; o Avisador de Saída de Faixa, que através de uma câmara multifunções deteta e avisa, através de um sinal sonoro, quando há uma saída de faixa sem a devida sinalização; o Sistema de Reconhecimento de Sinalização de Trânsito, que reconhece automaticamente os sinais e os apresenta junto ao velocímetro; e as Informações de Ângulo Morto e de Trânsito Lateral que previnem, através da utilização de radares, embates provocados pela existência de veículos no ângulo morto de visão do condutor.
Chega por fim a hora de se fazer à estrada com o seu amor e respetivos pequerruchos, mas não sem antes optar pela versão de equipamento que melhor vos satisfaz: Comfort, Sport, Lifestyle ou Executive – por ordem de luxos e apetrechamentos. A mais simples parte dos 25 900 €, enquanto a mais elaborada estaciona nos 31 000 €.
Artigo presente na edição de 26 de Fevereiro do semanário AutoSport

26 de fevereiro de 2014

Quando a História pesa

Já chega. Dói demasiado. Se é este o preço a pagar pelo sucesso então que vivamos na inviabilidade de nos concretizarmos e de concretizarmos os nossos sonhos. No espaço de um mês chorámos a vida de duas lendas e enterrámos as suas mortes. Mas não esquecemos. Ainda vivem. Aqui, nestes corações que de sangue (encarnado) palpitam e que não sabem como despedir-se. Porque com eles aprendemos a saltar de alegria e não a murchar de tristeza.

Mário Esteves Coluna. O segundo a despedir-se. Nascido em Moçambique, o “Capitão” leva consigo mais alguns dos melhores anos da história benfiquista. E muitas histórias que nunca conheceremos. Afinal, e como cantava Rui Veloso, é mesmo verdade que quando morremos triplicamos a nossa fama. Isso e a atenção que nos dispensam. Ganhamos um outro estatuto. É triste, mas é a vida. Ou a morte. No entanto, nunca ninguém poderá acusar o Benfica e os benfiquistas de não celebrarem em vida as vidas que nos fizeram viver. Viver o futebol. Viver o desporto. Viver o amor de uma vida. Viver o que não se vive. Sente-se.

Sentamo-nos nós agora, a chorar esta solidão acompanhada, com medrosas ganas de um futuro que havemos de construir mas já sem os nossos profetas por perto. Porque a vida é isto e porque isto é a vida. A vida que é seguir em frente, sem esquecer o que lá ficou atrás. E lá atrás ficou um homem que durante 78 anos respirou e viveu futebol. Uma estrela como poucas. Daquelas que tem a sua própria luz. Daquelas que faz as outras estrelas mais pequeninas e singelas brilharem também. Talvez por isso tenha sido sempre o “Senhor Coluna”. Talvez por isso os outros nunca tenham passado de meninos. Não por faltosa modéstia, mas porque um pai é sempre um pai e pai que é pai ensina. Ajuda-nos a levantar. Mostra-nos o caminho. Põe-nos a mão na cabeça e diz, depois de uma impossível corrida com fecho de golo, “parabéns, pequeno. O futuro é teu e está aqui. Eu nunca deixei de acreditar”.
Cesare Maldini e Mário Coluna, em Wembley, na final da Taça dos Clubes Campeões Europeus in benficadojota.blogspot.com
Imagino-o a dizer estas palavras ao Eusébio. Ao Simões. Ao José Augusto. Ao Raúl Águas. O puto que conheceu Coluna com apenas 17 anos e que, desde então, nunca mais esqueceu a força única de um homem que nem Eusébio conseguia ofuscar. E o Pantera Negra nem almejava a tal desrespeito. Porque este homem era o Benfica. Este homem modelava o que o Benfica era. Delineava todas as aventuras e desventuras pelas quais o clube passava. E a prova disso foram os 677 encontros disputados ao longo dos 16 anos em que representou o Maior-de-Portugal.

Estreou-se no dia 5 de Setembro de 1954 e nos primeiros tempos, ao serviço de Otto Glória, foi para a frente de ataque. Pouco se demorou a perceber que o génio e a responsabilidade deste “Monstro Sagrado” – como foi apelidado por Artur Agostinho – exigia um lugar não de finalização, mas de organização. Tornou-se o mestre do meio-campo português e os dez Campeonatos e as sete Taças de Portugal provam e comprovam isso mesmo. Na Europa foi ainda um dos maiores protagonistas dos dois grandes sucessos europeus do Benfica, tendo marcado golos de sonho ao Barcelona, em ’61, e ao Real Madrid, em ’62.

Dizemos-te adeus, campeão. Ou até sempre. E com uma certa esperança intranquila e injustificada cremos, com todo este coração partido dos muitos trambolhões do nosso Benfica, que, de aí de cima, continues a olhar por nós como só tu soubeste fazer ao longo de décadas e décadas. Dentro das quatro linhas ou fora delas. Fá-lo por nós. Por ti, este será o trigésimo terceiro campeonato encarnado. E o resto é história.

Obrigado por fazeres parte da nossa.
O “Monstro” de joelhos. Hoje ficamos nós. Por ti in colunadaguiasgloriosas.blogspot.com

Artigo presente no sítio de desporto online

25 de fevereiro de 2014

Benfica 1-0 V. Guimarães: O Harry Potter de Leste voltou a fazer das suas

Portugal parou, com o coração nas mãos, para ver o que é que o Benfica fazia. O princípio do 33º campeonato começava – ou não – a desenhar-se aqui. Nesta noite. Neste jogo. Com um Sporting em começo de quebra e um Porto a rebentar pelas costuras. O futuro a quem pertence. A quem o reclama. E este tem de ser nosso. Benfica à Benfica precisa-se.

Não foi o que se viu. Um amor tímido, aquele que a equipa partilhou com os adeptos. Havia medo de perder. De não ser correspondido. De agarrar com unhas e dentes aquilo que é nosso por direito. Porquê? Somos melhores. Ninguém chega para nós. Mas há que mostrá-lo em campo. Olho por olho, dente por dente – como cantava Zeca Afonso. Com o onze do costume salpicado por algumas alterações e ausências, Jesus levava a jogo um Sílvio à direita, um Jardel ao centro e um Sulejmani à esquerda. E, surpresa das surpresas, tudo isso falhou. Mas há mais.

Num jogo em que o Benfica entrou a alto ritmo, com uma oportunidade claríssima de golo para Rodrigo logo aos dois minutos, nada fazia prever que a equipa da casa precisasse de magia para sobreviver. Uma cabeçada entre Pérez e Jardel aos cinco minutos veio matar o ímpeto encarnado e, a partir daí, foi o jogo possível. O central brasileiro não é propriamente acarinhado pela boa sorte, mas hoje tudo lhe aconteceu. Abriu a cabeça, as ligaduras não ficavam no lugar, foi obrigado a jogar com uma touca, meteu o avançado do Guimarães por duas vezes em jogo, protegeu bolas que não saíram e ainda resolveu fintar em zona proibida. Tanto quis mostrar serviço que acabou a servir…de passador.
D. Afonso Henriques...? in Facebook do SL Benfica
Passo a passo – literalmente (!) – o Benfica lá ia tentando furar por aquela que foi a melhor defesa a jogar na Luz este ano. Rui Vitória não se fez de rogado e só não levou um ponto para casa porque o Benfica tem de ser campeão. E o que tem de ser tem muita força. Ainda assim, o Guimarães deixou em campo blood, sweat and tears e teve em dois elementos os engenheiros que, tijolo por tijolo, construíram a barreira táctica que havia de desesperar mundos e fundos nas bancadas e em casa: Crivellaro é rei do meio-campo vimaranese e um guerreiro à moda antiga. O centro do campo foi dele e até Enzo e Fejsa precisaram de uma ajudinha extra – serventia de Rodrigo ou Lima; à esquerda um conhecido Leonel Olímpio que ia galgando por ali fora até despejar bola em Maazou, o pivô que também merece destaque pelo trabalho que deu à defensiva da casa. Com estas e outras diabruras o Guimarães lá se foi aguentando, sempre com dois homens junto ao detentor da bola, alas fechadas e um centro de campo de meter medo. Jogo de vai ou racha, portanto.

E o Benfica, pela varinha encantada de Markovic, lá foi e rachou. Depois de alguns sustos junto à (bem protegida) baliza de Douglas, o sérvio lá conseguiu – à terceira fantástica tentativa – tirar um coelho do chapéu…com um chapéu ao guarda-redes do Guimarães. Golo da noite, da jornada, da época e da vida do sérvio, se não contarmos com a maldade perpetrada no Estádio José Alvalade. Rodrigo, num dos poucos lances em que esteve bem, recebe a bola, roda sobre si próprio e com pózinhos de perlimpimpim faz a assistência que, a cinco minutos do intervalo, complicava as contas a Rui Vitória. Valha-nos o feiticeiro.

A partir daí veio mais do mesmo. Um Benfica desligado, podre, nauseabundo e que não mostrava amor à camisola. Do banco avistavam-se soluções, mas o mister é Jorge Jesus e não eu. Não me entendam mal: ele é que manda, sim, mas eu é que percebo do assunto. E passei o jogo inteiro a dizer que o Enzo estava em “dia não” e que o Fejsa, assim, não dava nem para a elementar distribuição de cacetada. Rúben Amorim, senhores. O jogo clamava pelo português, raios! Não houve meio até à entrada do homem. Até aos 84 minutos! E não há milagres, Jesus. Só magia. E foi a magia vinda do Leste que te safou.
Um golo de se lhe tirar o chapéu in jornalacores9.net
A Figura
Markovic – Palavras para quê? Nasceu ensinado e saiu de lá de dentro a dar toques. É estonteante. Dá até vontade de o vender por mais de 25 milhões, só para variar um bocado.

O Fora-de-Jogo
Público da Luz – Não tivessem os bilhetes sido oferecidos e estava a noite estragada. Onde anda o Benfiquismo desta gente? Fica a nota: a energia gasta no maldizer também serve para as palmas e para os cânticos. Esta equipa, independentemente do que deixa ou não em campo, merece melhores adeptos.

P.S. – Parabéns a Luisão pelo 400º. Já não se vêem destas coisas no futebol. E muita força ao nosso Mário “Capitão” Coluna. Estamos a torcer por melhores notícias.

Artigo presente no sítio de desporto online

18 de fevereiro de 2014

Sentido de humor precisa-se

Ontem à tarde, enquanto o Benfica defrontava o Paços de Ferreira, tive a felicidade de ver no stream pelo qual acompanhava o jogo aquele que seria o mote para a minha crónica de hoje. Atrás de Jorge Jesus, e junto ao banco do Benfica, lá estava, mais uma vez, o “bitaite” em folha A4 dirigido ao treinador encarnado. Desta vez lia-se – sempre em letras garrafais, claro – «JESUS, põe o MANEL a jogar». Escangalhei-me a rir mais uma vez. E ainda bem. Porque independentemente de o Benfica estar a fazer uma das piores primeiras partes desde o jogo com o Arouca, eu soube manter o meu sentido de humor intacto. Acreditem…não é fácil.
Pastilhas, caipirinhas e desta vez um pedido especial. Jesus já viu de tudo in facebook.com/c.oculta
Não é fácil, acima de tudo, para os adeptos que bêbedos em cegueira invadem os espaços de opinião, ou de notícia, ressabiados com as inúmeras “injustiças” que se atravessam no caminho do seu clube. Gente que vê maldade na arbitragem. No tipo que está sentado a seu lado a torcer pelo clube rival. No desgraçado do apanha-bolas que ainda nem idade tem para votar, mas que cheio de livre-arbítrio lá queima uns segundinhos na (não) ajuda à reposição. Levantam-se e vociferam. Quer seja no estádio. Ou em casa. Ao pé da mulher. Ao pé do marido. Mesmo ao pé dos filhos. Palavrão para aqui, palavrão para acolá…porque é o “sistema”. É o “compadrio”. É a “corrupção”. É “os de sempre”. É o “ridículo”. É a “roubalheira à descarada e sem propósitos”. É a “fruta”. É o “café com leite”. Mas ainda há alguém que veja futebol neste país?

Acredito – e espero – que sim. Eu faço por ver. E faço por me rir. É que «não há desgraça que não tenha a sua graça», como escreveu uma vez Miguel Esteves Cardoso. Aconselho portanto todos os protagonistas a esboçarem um sorriso quando o árbitro anula (mal) um golo à sua equipa de coração. Quando um cronista da equipa rival aproveita uma péssima exibição para fazer pouco do nome da instituição que tanto amam. Ou mesmo quando têm o Campeonato, a Taça de Portugal e a Liga Europa na mão e, a segundos do fim, vêem tudo a ir pelo cano abaixo. Primeiro, esse sorriso – nem que seja amarelo. E depois chorem. Chorem tudo o que tiverem a chorar. Amaldiçoem e roguem pragas aos sete ventos. Vociferem palavrões até o sol nascer. Arranquem os cabelos pela raiz. Mas tenham, pelo amor do Deus do Futebol, a decência de guardar para vocês mesmos a raiva e a mágoa que vos enche a alma e o coração. Porque…ninguém quer saber.
A imagem mais triste que vi em 22 anos de Benfiquismo in geracaobenfica.blogspot.com
E essa é a difícil e triste realidade do adepto de futebol. Quando se sofre, sofre-se sozinho. Não se podem marcar consultas no psicólogo mais próximo para lidar com os sete que o Benfica engoliu a seco, em Vigo. Não se vão comprar antidepressivos para superar o facto de a nossa equipa não vencer na casa do rival desde Janeiro de 2006. E que nem nos passe pela cabeça convidar um amigo para jantar para falar do péssimo treinador que o nosso presidente resolveu contratar com uma confiança cega.

Mergulha-se assim numa espiral recessiva de angústia e ansiedade. Porque à nossa volta há milhões como nós, mas ninguém que nos ouça. A dor é nossa. Ninguém sofre como nós. Mas até no sofrer tem de haver uma certa dignidade. E o mesmo se aplica ao amor e à dedicação. Eu que o diga. Eu que amo um clube que nasceu numa farmácia. Eu que todas as semanas grito por um clube que diz ter nascido em 1904, mas que só se tornou naquilo que realmente é em 1908. Eu que vou ao estádio berrar com lágrimas nos olhos um hino no qual me intitulo de “papoila saltitante”. Eu que tenho como irmãos milhões de adeptos conhecidos por gostarem de couratos, terem bigode até aos joelhos e baterem na mulher quando a águia voa mais baixo. Eu que tive um presidente corrupto que ainda hoje está fugido lá para as Inglaterras. Eu que tenho como Rei omnipresente o homem que via no tremoço o melhor marisco do mundo. Eu que torço por uma equipa que consegue jogar durante semanas sem portugueses no onze inicial. Eu que apoio um treinador que não consegue conjugar uma frase em português correcto para salvar a própria vida. Eu que me lembro de ganhar dois campeonatos desde que sou nascido. Eu que não ganhava ao Porto à grande e à francesa desde sei lá quando.

Mesmo assim…rio-me. Divirto-me. Sou feliz. Não enveneno os outros com as minhas derrotas e os meus pesares. Não me sinto ridículo. Sinto-me o que sou. E sou benfiquista. Para o bem e para o mal. Em qualquer que seja o contexto, sofro sozinho. Não preciso que ninguém sofra por mim.

Artigo presente no sítio de desporto online